terça-feira, 27 de abril de 2010

"Se falar pense antes. Se não pensar, não fale. As grávidas agradecem.”







Desde o início da minha gravidez não me sai da cabeça a idéia de que o Ministério da Saúde deveria criar uma campanha sobre o comportamento das pessoas em relação às grávidas.
Os primeiros comentários das pessoas do nosso convívio são sempre frisando que nunca mais ninguém dorme devido o choro do bebê; que manga, peixe, umbu, cajarana e outra série de alimentos fazem mal; que deixam a placenta colada, causa eclampsia, faz perder a criança e mais uma série de acontecimentos trágicos... Vai dando logo vontade de mandar todo mundo pra "ponte que partiu".
É do conhecimento de todos que, durante a gestação, nós mulheres ficamos mais sensíveis e é lógico que temos uma grande preocupação em relação ao desenvolvimento da criança, aos cuidados com a gravidez; para que nada atropele a chegada saudável do bebê. Mas é impressionante como, mesmo tendo este conhecimento, as pessoas insistem em fazer comentários nada animadores e que chega a causar aflição.
Nos primeiros meses de gravidez, ouvi por várias vezes as mais variadas – e detalhadas histórias – sobre casos de aborto. Era história de uma que havia escorregado, outra que não sabia o porquê de ter perdido o bebê, mas, perdeu. E havia sempre os detalhes das dores sentidas, do sangramento, da correria para o hospital. Detalhe: minha mãe sofreu dois abortos antes de mim e outro depois e portanto eu já tinha por natureza um receio “genético” de algo assim. Somando isso as histórias que vinham me contar, eu só me senti segura para comprar coisas para o bebê a partir do 6º mês de gestação. O medo de perder a criança ficava me rondando o tempo inteiro.
Outro ponto muito comentado é sobre a criança mexer ou não. O médico e a enfermeira que me acompanhavam no PSF me deixavam bem claro que o bebê começava a mexer a partir das 16 semanas; mas, as outras pessoas me afirmavam que antes disso já era para mexer e deixavam no ar um tom de interrogação como que afirmando que algo estava errado comigo e o bebê.
Depois, vem o questionamento sobre se estou com pés inchados e como até o 6º mês não havia inchação, novamente era motivo para olhares "assombrados". Quando começou a inchação, pelo 7º mês, os questionamentos não pararam, sendo agora por outro ângulo, se admirando pelos pés estarem inchados – como se as grávidas não inchassem os pés. Agora mesmo a pressão arterial variando entre 10X6 e 10X7, não param de me assustar. Já me falaram em eclampsia inúmeras vezes e sempre detalhando todos os sintomas como que me avisando que vou passar por toda aquela agonia, devido os pés estarem inchados...
Como se não bastasse, quando falo que prefiro o parto normal, não são poucos os que me assustam falando sobre "o corte feito para apressar a passagem do bebê" – a episiotomia ( já me falaram até sobre uma moça que sofreu 30 pontos na vagina com este corte! ); sobre as dores que dizem ser insuportável, a “pior já sentida” e ainda sobre histórias de partos forçados, onde a criança quebra o bracinho.
Agora que o médico me falou que talvez seja cesáreo, o assunto é “a difícil recuperação de quem faz cesáreo, sempre com gases, dores e sem poder levantar da cama, etc etc...”.
Graças a Deus que, certamente por providência divina, a serenidade vem me acompanhando desde o início da gestação e portanto, não tenho dado importância a estes comentários negativos; até porque, procuro me informar sobre a gestação através dos profissionais que me acompanham no PSF, na cartilha do Ministério da Saúde (santa cartilha!), revistas e sites conceituados da internet.
Mas não me sai da cabeça que o Ministério da Saúde deve criar uma campanha de advertência a este respeito. Algo como cenas de conversas com as grávidas e a advertência: "Ministério da Saúde adverte -Se falar pense antes. Se não pensar, não fale. As grávidas agradecem.”


Anna Jailma - Mãe de Saul, 37ª semana de gravidez!

Um comentário:

  1. Talvez por ter trabalhado 3 anos em uma clinica de ultrassonografia, eu já tenha essa sensibilidade, não abrindo a boca pra falar a coisa errada, na hora errada, pra pessoa errada. Lá mesmo eu ouvia muita coisa de gente que tinha a sutileza de um hipopótamo. Já cheguei a interromper conversas por achar que o assunto era assustador demais para a grávida ouvinte. Se me deprimia, imagine só o que esse tipo de conversa não fazia com as gávidas?

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